quinta-feira, agosto 07, 2025

 

segunda-feira, julho 28, 2025

Escrutínios saudáveis, colaborativos e, sobretudo, autocríticos são mesmo possíveis?

Muitos dos que eu admirava, na época em que me debruçava mais intensamente sobre conflitos de interesse na saúde, acabaram estabelecendo suas próprias relações - e conflitos - com negócios envolvidos em indenizações milionárias sustentadas por evidências tão frágeis quanto aquelas que antes criticavam. Já entre nomes associados à SBE, desvios também foram comuns quando os questionamentos passaram a recair sobre aquilo que faziam ou acreditavam.

Vinay Prassad, de livros memoráveis, tornou-se um exemplo quase caricatural de descalibragem movida por certezas. E seus parceiros, antes implacáveis nas críticas a terceiros, agora parecem constrangidos a exercê-las — como se precisassem poupar o amigo e até mesmo o pessoal hoje no entorno dele.

Isso tudo lança dúvidas incômodas sobre nossa real capacidade de sustentar escrutínios saudáveis, colaborativos e, sobretudo, autocríticos — pilares da filosofia da ciência. E ajuda a compreender tantas dinâmicas que acabam por proteger práticas médicas questionáveis, obrigando-nos a reconhecer que, sim, nossas relações sociais e outras necessidades pessoais podem ser tão importantes quanto a precisão das informações em um campo específico do conhecimento — especialmente quando lidamos com escolhas envolvendo caminhos apenas marginalmente piores, cujas consequências, muitas vezes, só se revelam muito tempo depois, e ainda por cima não são determinísticas. 

terça-feira, junho 10, 2025

Sobre a demissão dos pediatras do comitê de vacinas do CDC


As preocupações levantadas por todos acima são mais do que legítimas — proteger a ciência e evitar distorções impostas por pressões políticas é fundamental. Mas isso não nos impede de olhar para o outro lado do espelho: os conflitos de interesse são reais (sem que estejamos afirmando aqui que alguém tenha sucumbido a eles em decisões concretas). É fato público que houve recebimento de honorários por consultorias científicas e palestras financiadas por fabricantes de vacinas.

Não se sabe se os pediatras recentemente demitidos estavam entre os sete membros citados no relatório de 2009 do Office of Inspector General (HHS/OIG) e que votaram em matérias nas quais, segundo o órgão, deveriam ter se abstido. Ainda assim, resta claro que, mesmo quando não distorcem diretamente uma decisão clínica ou recomendação técnica, os conflitos de interesse no mínimo potencializam ruídos —  e abrem espaços ambíguos, zonas que podem ser exploradas até mesmo por oportunistas mal-intencionados. Há aí uma vulnerabilidade, não só ética, mas comunicacional: o potencial descrédito que nasce da possibilidade de comprometimento pode ser tão corrosivo quanto o comprometimento em si. Mesmo quando essa corrosão ocorre injustamente. Nesta história acima, bastou concentrar poder do lado errado. 

Isso nos leva a uma pergunta incômoda, mas inevitável: devemos normalizar os conflitos de interesse como parte inerente da relação entre ciência e indústria? Ou, ao contrário, reconhecê-los como um risco sistêmico — inclusive para os mais íntegros — e tratá-los com a seriedade e o cuidado que a integridade científica exige? Até que ponto esses pediatras comprometeriam sua qualidade de vida e suas possibilidades profissionais se limitassem sua relação com a indústria exclusivamente à participação em pesquisas clínicas patrocinadas? Precisavam? Eis a questão.

Conspiradores só prosperam onde há terreno fértil: a desconfiança. E essa desconfiança, em parte, é consequência de como temos conduzido a Medicina.

domingo, abril 27, 2025


 Embora a influência da indústria farmacêutica sobre profissionais de saúde seja real e mereça discussão crítica — como evidenciado em nosso próprio projeto —, é fundamental reconhecer quando essa preocupação legítima é instrumentalizada para outros fins. No caso da matéria em questão, a crítica à Big Pharma funciona apenas como um gatilho emocional, utilizado para emplacar ideias que, longe de fortalecer a ciência ou a saúde pública, promovem agendas desconectadas dos interesses reais das pessoas — ou daqueles que deveriam ser, não estivéssemos vivendo a era da desinformação.

terça-feira, abril 01, 2025

Quem irá fiscalizar Jornalismo e influenciadores?

Estamos entrando em uma nova era na discussão sobre conflitos de interesse na saúde.


Se antes os holofotes estavam voltados quase exclusivamente para os médicos, hoje é urgente que também iluminem influencers de todas as profissões e o jornalismo em geral.

Os desafios, que já eram grandes, tornaram-se ainda mais complexos. Houve um tempo em que o jornalismo desempenhava um papel fundamental na fiscalização das práticas médicas e da indústria da saúde. Hoje, tudo indica que essa função vai se enfraquecer — e surge a inquietante pergunta: quem irá fiscalizar os próprios jornalistas e influenciadores, quando esses também passam a ter interesses cruzados?

A credibilidade da informação em saúde está em jogo. E talvez estejamos apenas começando a experimentar o tamanho do problema.

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