segunda-feira, julho 28, 2025

Escrutínios saudáveis, colaborativos e, sobretudo, autocríticos são mesmo possíveis?

Muitos dos que eu admirava, na época em que me debruçava mais intensamente sobre conflitos de interesse na saúde, acabaram estabelecendo suas próprias relações - e conflitos - com negócios envolvidos em indenizações milionárias sustentadas por evidências tão frágeis quanto aquelas que antes criticavam. Já entre nomes associados à SBE, desvios também foram comuns quando os questionamentos passaram a recair sobre aquilo que faziam ou acreditavam.

Vinay Prassad, de livros memoráveis, tornou-se um exemplo quase caricatural de descalibragem movida por certezas. E seus parceiros, antes implacáveis nas críticas a terceiros, agora parecem constrangidos a exercê-las — como se precisassem poupar o amigo e até mesmo o pessoal hoje no entorno dele.

Isso tudo lança dúvidas incômodas sobre nossa real capacidade de sustentar escrutínios saudáveis, colaborativos e, sobretudo, autocríticos — pilares da filosofia da ciência. E ajuda a compreender tantas dinâmicas que acabam por proteger práticas médicas questionáveis, obrigando-nos a reconhecer que, sim, nossas relações sociais e outras necessidades pessoais podem ser tão importantes quanto a precisão das informações em um campo específico do conhecimento — especialmente quando lidamos com escolhas envolvendo caminhos apenas marginalmente piores, cujas consequências, muitas vezes, só se revelam muito tempo depois, e ainda por cima não são determinísticas. 
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