Nas redes, a propaganda das novas drogas para perda de peso segue um roteiro, no mínimo, questionável. Elas são, de fato, adventos comemoráveis sob várias perspectivas — ninguém nega ou deve negar à luz das evidências atuais. Mas o que se observa lá é um esforço constante de ampliar vantagens e, principalmente, abrir outras.
Muitas postagens lembram versões invertidas das análises do Blog do Luis.
Mas não significa que haja inverdades completas lá. O que há é a adoção fiel de uma cartilha de comunicação historicamente utilizada pela indústria farmacêutica: marketing inteligente com hype nas mensagens com maior potencial de visualização e uma calibragem nas “letras pequenas”.
Alguém poderia argumentar que o público leigo não domina os detalhes complexos que o Luis explica tão bem a profissionais — e que, portanto, esse tipo de exagero, muito bem travestido de científico, não afetaria a imagem da medicina perante eles. Mas o hype é perceptível a qualquer pessoa atenta. E, quando percebido, podem se instalar dúvidas: se as promessas soam boas demais, por que exatamente uma instituição médica está comunicando assim?
É desse desalinhamento entre conteúdo e forma que nasce parte da desconfiança crescente: não pela ausência de benefícios reais, mas pelo modo como são inflados, embalados e entregues, afastando a medicina da sobriedade e do rigor que deveriam ser sua marca. E, nesse ambiente fragilizado, um efeito colateral se torna inevitável: entre tantas narrativas mal calibradas, as pessoas acabam se sentindo no direito de questionar — equivocadamente — até mesmo vacinas, por percebê-las como apenas mais uma intervenção comunicada dentro de um sistema que já não inspira tanta confiança e quase somente vende soluções irretocáveis ou, com igual entusiasmo, a necessidade de si mesmo.
