terça-feira, junho 10, 2025

Sobre a demissão dos pediatras do comitê de vacinas do CDC


As preocupações levantadas por todos acima são mais do que legítimas — proteger a ciência e evitar distorções impostas por pressões políticas é fundamental. Mas isso não nos impede de olhar para o outro lado do espelho: os conflitos de interesse são reais (sem que estejamos afirmando aqui que alguém tenha sucumbido a eles em decisões concretas). É fato público que houve recebimento de honorários por consultorias científicas e palestras financiadas por fabricantes de vacinas.

Não se sabe se os pediatras recentemente demitidos estavam entre os sete membros citados no relatório de 2009 do Office of Inspector General (HHS/OIG) e que votaram em matérias nas quais, segundo o órgão, deveriam ter se abstido. Ainda assim, resta claro que, mesmo quando não distorcem diretamente uma decisão clínica ou recomendação técnica, os conflitos de interesse no mínimo potencializam ruídos —  e abrem espaços ambíguos, zonas que podem ser exploradas até mesmo por oportunistas mal-intencionados. Há aí uma vulnerabilidade, não só ética, mas comunicacional: o potencial descrédito que nasce da possibilidade de comprometimento pode ser tão corrosivo quanto o comprometimento em si. Mesmo quando essa corrosão ocorre injustamente. Nesta história acima, bastou concentrar poder do lado errado. 

Isso nos leva a uma pergunta incômoda, mas inevitável: devemos normalizar os conflitos de interesse como parte inerente da relação entre ciência e indústria? Ou, ao contrário, reconhecê-los como um risco sistêmico — inclusive para os mais íntegros — e tratá-los com a seriedade e o cuidado que a integridade científica exige? Até que ponto esses pediatras comprometeriam sua qualidade de vida e suas possibilidades profissionais se limitassem sua relação com a indústria exclusivamente à participação em pesquisas clínicas patrocinadas? Precisavam? Eis a questão.

Conspiradores só prosperam onde há terreno fértil: a desconfiança. E essa desconfiança, em parte, é consequência de como temos conduzido a Medicina.

domingo, abril 27, 2025


 Embora a influência da indústria farmacêutica sobre profissionais de saúde seja real e mereça discussão crítica — como evidenciado em nosso próprio projeto —, é fundamental reconhecer quando essa preocupação legítima é instrumentalizada para outros fins. No caso da matéria em questão, a crítica à Big Pharma funciona apenas como um gatilho emocional, utilizado para emplacar ideias que, longe de fortalecer a ciência ou a saúde pública, promovem agendas desconectadas dos interesses reais das pessoas — ou daqueles que deveriam ser, não estivéssemos vivendo a era da desinformação.

terça-feira, abril 01, 2025

Quem irá fiscalizar Jornalismo e influenciadores?

Estamos entrando em uma nova era na discussão sobre conflitos de interesse na saúde.


Se antes os holofotes estavam voltados quase exclusivamente para os médicos, hoje é urgente que também iluminem influencers de todas as profissões e o jornalismo em geral.

Os desafios, que já eram grandes, tornaram-se ainda mais complexos. Houve um tempo em que o jornalismo desempenhava um papel fundamental na fiscalização das práticas médicas e da indústria da saúde. Hoje, tudo indica que essa função vai se enfraquecer — e surge a inquietante pergunta: quem irá fiscalizar os próprios jornalistas e influenciadores, quando esses também passam a ter interesses cruzados?

A credibilidade da informação em saúde está em jogo. E talvez estejamos apenas começando a experimentar o tamanho do problema.

terça-feira, novembro 19, 2024

Em uma publicação recente no LinkedIn, o autor de um estudo publicado em uma revista de grande prestígio compartilhou um print do artigo, acompanhado de agradecimentos.

No print, constavam o título do artigo, os nomes dos coautores, sua informação de contato e uma declaração de ausência de conflitos de interesse. Nos agradecimentos, copiou os demais autores e a farmacêutica representante do produto. 

Essa situação é caricatural ao ilustrar como frequentemente confundimos ter conflitos de interesse com ceder a eles. Nessa confusão — às vezes inadvertida, outras vezes deliberada — nunca ninguém possui conflitos de interesse. Até que é descoberto por alguma coisas indefensável. E o mesmo sistema que antes o amparava, o abandona, nem que seja por um tempo.


Oportunidade de revisarmos conceitos:

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