Muitos dos que eu admirava, na época em que me debruçava mais intensamente sobre conflitos de interesse na saúde, acabaram estabelecendo suas próprias relações - e conflitos - com negócios envolvidos em indenizações milionárias sustentadas por evidências tão frágeis quanto aquelas que antes criticavam. Já entre nomes associados à SBE, desvios também foram comuns quando os questionamentos passaram a recair sobre aquilo que faziam ou acreditavam.
Vinay Prassad, de livros memoráveis, tornou-se um exemplo quase caricatural de descalibragem movida por certezas. E seus parceiros, antes implacáveis nas críticas a terceiros, agora parecem constrangidos a exercê-las — como se precisassem poupar o amigo e até mesmo o pessoal hoje no entorno dele.
Isso tudo lança dúvidas incômodas sobre nossa real capacidade de sustentar escrutínios saudáveis, colaborativos e, sobretudo, autocríticos — pilares da filosofia da ciência. E ajuda a compreender tantas dinâmicas que acabam por proteger práticas médicas questionáveis, obrigando-nos a reconhecer que, sim, nossas relações sociais e outras necessidades pessoais podem ser tão importantes quanto a precisão das informações em um campo específico do conhecimento — especialmente quando lidamos com escolhas envolvendo caminhos apenas marginalmente piores, cujas consequências, muitas vezes, só se revelam muito tempo depois, e ainda por cima não são determinísticas.