segunda-feira, setembro 23, 2013

Há exatos 7 anos: Bob Goodman, de No Free Lunch, esteve no Rio Grande do Sul


É olhando para trás que percebo o significado deste humilde projeto. Colaboradores já desistiram, outros surgiram. Na época do evento da foto, que ajudei a organizar, não havia ainda um movimento organizado para discutir o assunto. No seguimento, já fomos a Campanha Alerta, praticamente abandonada e com o seu site, no exato momento, inclusive hackeado e bizarro. Outros palestrantes internacionais já vieram após, especialmente para falar sobre o complexo relacionamento entre médicos e indústrias farmacêuticas, como Edwin Gale (entrevista, palestra). Expusemos, ao longo deste tempo, quase uma década, centenas de profissionais da saúde ao problema, através de palestras, oficinas, campanhas ou artigos. Nossa mais recente participação foi em julho, no Safety2013, Rio de Janeiro.

Alguns parceiros já caíram em armadilhas, por antes criticar radicalmente e, a partir do próprio envolvimento com a indústria, acreditar que tudo que se dizia (e que eles próprios diziam) era importante para pessoas "permeáveis", e que então fariam diferente.

Bob Goodman (da foto) já abandonou o projeto No free Lunch, entregando para o pessoal do Healthy Skepticism.

Ainda guardo suas apresentações de 2006:

Bob Goodman Part I: http://bit.ly/nVLuSq
Part II: http://bit.ly/oIFDEn

É possível que somente possam ser vistas com Internet Explorer.

domingo, setembro 22, 2013

Less is More versus More is More

Divulgo texto. São pessoas como o autor Luis, indivíduos "com tempo" para fazer estas coisas (uma franca provocação à desculpa da falta de), que me fazem seguir acreditando na Medicina. Pessoas que pensam, certo ou errado - mas coisa linda o simples ato de pensar [mais] livre, solto... Às vezes erra então, no momento ou na antecipação. E várias não ajuda muito, como quando critica aquilo que traria conforto (há algo mais inquietante para a mente e o coração do que a dúvida???) e não tem respostas definitivas para dar...

quinta-feira, setembro 12, 2013

Entrevista de Viomundo com Adriane Fugh-Berman

Viomundo – Como, quando e por que você lançou o blog Pharmedout, da Universidade Georgetown, do qual é diretora?

AFB – Originalmente, fomos financiados com dinheiro de uma punição. A Warner Lambert, que era uma subsidiária da Pfizer, foi processada pelos 50 estados americanos mais o Distrito de Columbia por causa da propaganda de um composto que aqui nos EUA se chama Gabapentin. É um remédio para convulsões, para epilepsia, que estava sendo vendido e promovido como sendo um remédio para depressão e bipolaridade, dor muscular, tudo… Houve um acordo na justiça a respeito da propaganda ilegal desse remédio. Os procuradores estaduais decidiram usar parte do [dinheiro do] acordo para financiar esforços de educação de médicos e do público a respeito das propagandas da indústria farmacêutica. Acho que eles financiaram 26 centros médicos universitários para criar modelos educativos. Nós recebemos financiamento por dois anos e tivemos melhores resultados do que os outros projetos e somos o único projeto que continua sobrevivendo. Ao menos dos que não existiam antes disso. Existem uns dois que já funcionavam antes. Eu venho de um ativismo na área de saúde. Trabalhei com um grupo chamado Rede de Saúde da Mulher que não recebe dinheiro algum da indústria e já tinha experiência com essa história de tentar promover mudança social sem ter orçamento… Produzimos vídeos com gente que trabalhou na indústria, escrevemos análises de artigos acadêmicos, divulgamos material educacional na internet e não recebemos mais dinheiro desde 2008.

Viomundo – Como estão sobrevivendo?

AFB – Estamos sobrevivendo de doações individuais e organizamos uma conferência todo ano. Pedimos algum dinheiro para a escola e cobramos uma taxa de inscrição, apesar de deixarmos todo mundo que não tem dinheiro entrar de graça porque tem muitos estudantes e eles não pagam nada, por exemplo. Levantamos um pouquinho de dinheiro com a conferência e algumas doações da escola. Por exemplo, a verba para estudar a relação entre cirurgiões e representantes dos fabricantes de material cirúrgico que ficam dentro da sala de operações ajudando os cirurgiões e ninguém sabe nada a respeito dessas relações e como começaram. Ganhamos um dinheiro do departamento de filosofia da Georgetown para essa pesquisa. Mas a maior parte da nossa verba vem de contribuições individuais. Temos apenas um funcionário remunerado. Eu não ganho nada do projeto e temos voluntários. Quando o dinheiro acabou, em 2008, ninguém saiu. Todo mundo ficou no projeto. E continuaram fazendo trabalho voluntário nos últimos cinco anos.

Viomundo – Em um de seus artigos você diz que a indústria farmacêutica promove doenças e não apenas a venda de remédios. Você pode explicar e dar exemplos do que está falando?

AFB – Existe um número maior de pessoas saudáveis do que de pessoas doentes no mundo e é importante para a indústria fazer com que as pessoas que são totalmente saudáveis pensem que são doentes. Existem muitas maneiras de se fazer isso. Uma delas é mudar o padrão do que caracteriza uma doença. Essa é uma área muito vasta e interessante. O padrão para diagnóstico de pressão alta e diabetes e colesterol alto caiu ao longo dos anos.

Viomundo – Para incluir mais gente nessas categorias de doentes?

AFB – Exatamente. Quando eu estava na escola de medicina, uma pressão de 12 por 8 era considerada perfeita. Era o alvo. E agora é considerada pré-hipertensão.

Viomundo – Como aconteceu essa mudança?

AFB – Existem comitês que fazem as recomendações para essas mudanças e eles estão cheios de gente que recebe dinheiro das grandes empresas farmacêuticas. Por exemplo, o Programa Nacional de Educação sobre o Colesterol é supostamente independente e assessora o governo a respeito da maneira de administrar o colesterol. O comitê que decidiu reduzir as metas tinha uma única pessoa com menos de três conflitos de interesse com os fabricantes de remédios de colesterol. Não sei nem se era zero, mas menos de três! Obviamente, qualquer pessoa tomando decisões a respeito de remédios para um hospital ou um país não deve ter nenhum conflito de interesse com nenhum fabricante de remédios. Outra forma de fazer com que pessoas saudáveis pensem que são doentes é expandir a categoria da doença ou até mesmo criar doenças. Por exemplo, síndrome das pernas inquietas. É uma doença real, neurológica, raríssima. Mas foi redefinida de forma que se você está agitado durante a noite, pode ser diagnosticado com essa doença. Outro exemplo é a doença da ansiedade social. É bom notar que a psiquiatria é a profissão mais suscetível a diagnósticos questionáveis porque todos os diagnósticos são subjetivos. Dependem muito da cultura e não existe nenhuma prova, nenhum exame para comprovar a existência da doença. Por isso é um alvo. Uma das categorias que talvez tenha sido criada é essa doença da ansiedade social que antes chamávamos de vergonha. Outra que foi criada é osteopenia, ou baixa massa óssea, que agora é considerada precursora da osteoporose e a osteoporose é apenas um fator de risco. Não é uma doença, é uma indicação de risco para quedas e fratura de ossos. Então a osteoporose é um fator de risco para um fator de risco de uma doença. E a osteopenia é um fator de risco para um fator de risco para um fator de risco.

Viomundo – E eu aposto que existe um remédio para isso…

AFB – Claro. E os remédios mais usados podem aumentar o risco de fraturas se forem tomados por mais de cinco anos! O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) também seria um exemplo de algo que existe, mas agora qualquer criança que não se comporta na sala de aula é diagnosticada com TDAH e medicada. Existe também um esforço para classificar o vício em nicotina como uma doença porque as empresas que vendem produtos para ajudar a parar de fumar… as empresas de seguro de saúde só cobrem os gastos com esses produtos por dois meses porque eles devem te ajudar a parar de fumar. Depois de dois meses você parou de fumar e pronto. Mas existe um movimento das empresas que fabricam esses produtos para classificar esse vício como uma doença para que os seguros cubram o custo do uso desses produtos pelo resto da vida. Assim, eles tentam provar para os fumantes que eles não podem parar e que é melhor substituir o cigarro por um desses produtos. Talvez seja melhor mesmo usar um substituto da nicotina do que fumar, mas quem está tomando essa decisão são as empresas farmacêuticas que usam formadores de opinião na comunidade médica. E essas decisões não são baseadas em ciência. São tomadas apenas porque empresas biomédicas poderosas garantem que as opiniões que são favoráveis a elas calem as opiniões contrárias. Metade das pessoas que consegue eliminar o cigarro com sucesso simplesmente param de fumar. E a indústria farmacêutica odeia isso. Quer fazer com que as pessoas acreditem que necessitam da ajuda dela. E que não podem parar sozinhas ou talvez não possam nunca parar. É um recado horrível não somente para os consumidores, mas para os profissionais de saúde dizer: “Seus pacientes não conseguem parar de fumar”. Porque isso é o que você tenta primeiro. Se isso não funcionar, então você usa um substituto. Mas alguns desses produtos também têm efeitos adversos.

Viomundo – Você diria que no fim do dia o dinheiro é a causa de todos esses problemas? A ganância?

AFB – Acho que o mais importante é separar a indústria farmacêutica da educação, da regulamentação e das decisões a respeito de que remédios e tratamentos devem ser cobertos. Não se pode permitir que a indústria se envolva com a educação, que influencie a regulamentação e participe dos comitês que decidem que remédios são cobertos. Eles podem apresentar argumentos e, se tiverem informações, podem apresentar para o comitê. Mas as pessoas que participam desses comitês não podem ter conflitos de interesse. E uma das armadilhas é o seguinte conceito: “Eu não tenho conflito de interesses com essas empresas em particular”. Se estou avaliando um remédio, talvez eu tenha uma relação com a empresa B, mas estamos avaliando um produto da empresa A. Então não é um conflito de interesse. Isso é uma tremenda armadilha por vários motivos. Um deles é que promover um remédio é muito mais do que divulgar os benefícios daquela droga. Pode ser também divulgar informações negativas a respeito de outros remédios. Divulgar informações negativas a respeito de dietas e exercícios. E não está mencionando o remédio da empresa com a qual tem relações. O que muita gente não sabe e é muito importante é que a promoção de um remédio às vezes começa dez anos antes dele chegar ao mercado. Essa droga pode nem ter sido testada em humanos ainda, mas a empresa já está tentando plantar a semente na cabeça dos médicos de que a doença é um grande problema, que não é brincadeira. Isso começa anos antes. Pessoas são pagas para falar sobre isso. Quando a droga chega ao mercado você diz “graças a Deus surgiu um remédio para essa doença incurável da qual ouço falar há anos!”.

Viomundo – Por que a população em geral e os médicos, em particular, caem nessa armadilha tão facilmente e com tanta frequência?

AFB – Olha, é mais difícil enganar a população do que os médicos. É muito fácil enganar os médicos. Por vários motivos. Ao menos nos EUA, os médicos, em geral, vêm das classes mais altas da sociedade. Nunca venderam nada. Não têm vendedores na família. Não têm familiaridade com técnica de vendas. Às vezes conversamos com estudantes que têm vendedores na família e eles identificam claramente as técnicas de vendas. Os médicos não reconhecem. Não apenas vêm das classes mais altas, mas também são ingênuos. Aparentemente, nos Estados Unidos, e não sei se isso se aplica também ao Brasil, os médicos são mais suscetíveis a golpes financeiros. Eles são inteligentes. São muito bons nas provas de múltipla escolha. Mas não têm esperteza. São crédulos. Para mim foi muito interessante descobrir isso.

Viomundo – Isso não é apenas uma maneira de desculpá-los facilmente? Eles não deveriam ter mais responsabilidade sobre o que estão fazendo?

AFB – Mas eles não são expostos… Ok, nós fazemos uma apresentação chamada “Porque o almoço é importante” e trabalhamos nela com muito cuidado. Usamos psicologia social para ajudar os médicos a perceber esses truques. Uma das coisas que fizemos na apresentação foi, numa das primeiras vezes que a testamos, espalhei pessoas na plateia para anotar os comentários que os médicos faziam. Pegamos os comentários mais comuns e transformamos em slides. Depois usamos esses slides com outras plateias e teve um efeito impressionante. Um deles, por exemplo, dizia: “Você está errado, os representantes das indústrias farmacêuticas são meus amigos!” ou “eu sou muito inteligente para ser comprado por uma fatia de pizza e você está sugerindo isso!” Pusemos esses comentários nos slides e depois explicamos porque estavam errados. Os médicos ficaram chocados. Realmente chocados! Porque mostramos o que estavam pensando. Foi muito eficaz. As pessoas saíram das nossas apresentações jurando que jamais receberiam um representante da indústria novamente. Nunca iriam a um jantar pago pela indústria novamente. Ninguém gosta de ser enganado e quando você descobre que está sendo enganado você fica com raiva. E eles não estavam com raiva de nós e sim dos fabricantes de remédios. A grande maioria dos médicos quer fazer o melhor para seus pacientes. Existem alguns que fazem qualquer coisa por dinheiro. Mas eles são a minoria. A maioria quer fazer o melhor para os pacientes. Mas eles não se dão conta de que as fontes das informações que recebem são contaminadas, que estão sendo manipulados pela indústria de diversas maneiras. Que a indústria controla a informação sobre remédios apresentados em encontros médicos, em publicações médicas, em toda fonte de informação da qual eles dependem. E não gostam quando descobrem isso.

Viomundo – Como é possível mudar tudo isso se a indústria controla a pesquisa e o desenvolvimento de novos remédios, os testes em humanos, tem um dos maiores lobbies no Congresso e assim controla as leis escritas a respeito dela. Como escapar dessa situação?

AFB – Acho que é preciso promover mudanças em várias frentes. Algumas coisas mudaram um bocado, nos EUA, nos últimos cinco a dez anos. Ainda existe muito a fazer, mas acho que boa parte é expor os problemas. Trabalhos como o da ProPublica divulgando na internet os pagamentos para médicos, de forma simples e acessível. A divulgação obrigatória [do que os médicos recebem da indústria] é importante. Mas não é suficiente. Algumas mudanças tem que vir da profissão médica mesmo. Ela tem que recusar a relação com a indústria em nível individual ou no nível das sociedades médicas que aceitam dinheiro da indústria. As sociedades médicas têm que parar de receber dinheiro. Os médicos têm que recusar presentes e temos que tirar todas as pessoas que tenham qualquer conflito de interesse com a indústria farmacêutica dos órgãos decisórios sobre riscos e benefícios de remédios. Tem que haver reformas legislativas também. Você mencionou a pesquisa, que é muito importante. Nos EUA, há 30 anos, o Instituto Nacional de Saúde financiava 70% de todas as pesquisas biomédicas. Agora, é a indústria que financia 70% das pesquisas biomédicas. Isso é um problema. Precisamos de mais financiamento do governo. Testes financiados pelo governo às vezes descobrem que remédios antigos são melhores do que os novos. A indústria nunca vai financiar esse tipo de estudo. A indústria financia vários estudos e só publica aqueles dos quais gosta, o que faz sentido de um ponto de vista de negócios.

Viomundo – Sim. Mas não faz o menor sentido para a minha saúde.

AFB – Exato. Existe um movimento internacional para obrigar as empresas a divulgarem as informações de testes em humanos. Se não publicarem, têm que disponibilizar os dados para que outros pesquisadores possam publicá-los, o que é ótimo! Isso vem do ativismo da comunidade da saúde. Mas algo tem que ser feito pela comunidade médica. Quando vamos à comunidade médica com nossas apresentações, quando explicamos a eles, em geral reagem bem. Eles vão eliminar essas relações se acharem que são ruins para os pacientes. Então, parte da solução é a educação e também divulgação obrigatória, exposição, legislação, regulamentação… são várias frentes.

terça-feira, setembro 10, 2013

A bilionária indústria da educação médica continuada

Recebi material que gostei e divulgo. Apesar de ser de 2009, era novo para mim que tenho por hábito procurar textos e opiniões sobre o tema, e continua bastante atual. Trata de mais uma das formas pelas quais a indústria impacta a prática médica: financiamento de atividades de educação continuada.

sábado, setembro 07, 2013

Relato de nutricionista sobre o XII Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN)

Sou uma nutricionista recém-formada. Durante a graduação, escutei vários relatos sobre o Congresso Nacional da SBAN. Mas, por incrível que pareça, a minha primeira experiência só aconteceu este ano – depois que eu já estava com meu diploma na mão. Como eu tinha condições e curiosidade, resolvi ir para o tal do congresso que a Coca-Cola patrocinava.

Eu ouvi vários alertas quando mencionei minha viagem e já cheguei ao evento bem desconfiada, mas, acredite, o Congresso da SBAN conseguiu me surpreender – negativamente.

Stands lindos, enormes e modernos da Coca-Cola (é claro!), da Herbalife, da SupraSoy, da Nestlé, da Danone. Se alguém tivesse me contado eu não acreditaria, mas eu vi com meus próprios olhos: distribuição gratuita de shakes para serem substituídos pelas refeições principais e um freezer liberado com os produtos da Coca-cola.

Além de todo esse absurdo, eu tive o desprazer de assistir a palestras financiadas por essas indústrias, nas quais os seus produtos eram enaltecidos e amplamente elogiados, respaldados por pesquisas, projetos e grandes nomes.

E, pior do que tudo isso, eu vi nutricionistas mais do que orgulhosos por terem organizado, participado e realizado esse belíssimo evento.

Desde o último semestre da faculdade tenho tido excelentes experiências em relação à minha profissão. Desenvolvi o meu senso crítico e aprendi a enxergar a Nutrição sob uma perspectiva bem diferente daquela que a Universidade insistia em nos ensinar.

Por isso, me peguei diversas vezes me perguntando durante este evento… E se eu não tivesse tido essas experiências, eu teria esse olhar crítico em relação a este Congresso? Fiquei sinceramente preocupada quando vi estudantes do 2º, 3º semestre. Pode ser que tudo tenha sido absorvido por eles ou pode ser (eu espero!) que não.

De tudo, fica o meu relato e minha reflexão. Afinal, pelo que, nós, nutricionistas, lutamos? Não somos nutricionistas sociais ou clínicos ou de produção… Somos nutricionistas. E precisamos nos unir para lutar por um mundo com uma alimentação adequada para todos. Todos.
*Bruna Nunes é nutricionista e atua no Núcleo de Segurança Alimentar e Nutricional do Centro-Oeste (NUSAN/CO) e no Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição (OPSAN/UnB). Originalmente publicado em http://propaganut.wordpress.com.

domingo, setembro 01, 2013

Ex-dirigente da ANVISA acusado de favorecer laboratório farmacêutico

O ministro do Supremo Luís Roberto Barroso autorizou a abertura de inquérito contra o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, por suspeita de crimes contra a administração pública. A decisão foi tomada a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), com base em dados da Operação Panaceia, da Polícia Civil e do Ministério Público de de Minas, que apurou indícios de que o governador recebeu dinheiro de um laboratório com interesses na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), da qual foi diretor entre 2007 e 2010.

As informações foram reveladas pelo jornal O Estado de S. Paulo em reportagens publicadas no ano passado, o que levou a PGR a abrir procedimento sobre o caso. Na operação, a polícia mineira apreendeu agenda com registros de contabilidade da diretoria do grupo farmacêutico Hipolabor. Numa das páginas, referente a 24 de maio de 2010, constava a anotação "Agnelo", ao lado de "50.000". Em outra, referente ao dia 30 do mesmo mês, mais uma inscrição, aparentemente abreviada: "Agnelo: 50".

Grampos da operação revelaram indícios de que assessores do governador eram acionados para destravar pleitos do laboratório na Anvisa. Ouvido pelo Grupo Estado no ano passado, Francisco Borges, representante do Hipolabor na Anvisa que foi assessor de Agnelo quando deputado federal, afirmou que as anotações na agenda referiam-se a recursos para campanha, mas alegou que as doações não foram feitas.

Em seu mandato na agência, Agnelo assinou ao menos oito resoluções que beneficiaram as três empresas do grupo Hipolabor. Concedeu certificados de boas práticas de fabricação, exigidos para o registro e comercialização de medicamentos, além da participação dos laboratórios em licitações. O governador responde a outros inquéritos, que apuram sua participação em irregularidades na Anvisa e quando chefiou o Ministério do Esporte.

No despacho que autorizou o inquérito, o ministro Barroso decretou sigilo das investigações, por conterem escutas telefônicas, e autorizou diligências da Polícia Federal no caso. Também será apurado o envolvimento do deputado federal Fábio Ramalho, suspeito de receber vantagens do laboratório em troca de intermediação de interesses na Anvisa, como revelou o jornal.

O advogado de Agnelo, Luís Carlos Alcoforado, informou que "todos os atos, procedimentos e comportamentos dele como diretor da Anvisa foram submetidos aos órgãos internos de controle do órgão, à Controladoria-Geral da União e ao Tribunal de Contas da União, com a aprovação de sua conduta sem qualquer ressalva ou censura". O deputado não foi localizado.

Fábio Fabrini, do 
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