quinta-feira, fevereiro 10, 2022

Destaques 2021 e um resgate merecido de 2017 sobre a relação entre médicos e farmacêuticas

Em 2017, e deixamos passar, The Journal of the American Medical Association dedicou uma edição temática sobre conflitos de interesse:

JAMA Conflict of Interest Theme Issue

Em Association Between Academic Medical Center Pharmaceutical Detailing Policies and Physician Prescribing, analisaram estruturas acadêmicas. 


Já, de 2021, destacamos Medical Device Firm Payments to Physicians Exceed What Drug Companies Pay Physicians, Target Surgical Specialists. O pessoal do Lown Institute abordou o estudo aqui

Outro material interessante é de U4 Anti-Corruption Resource Centre, pois traz uma perspectiva global da regulação e A Ray of Sunshine: Transparency in Physician-Industry Relationships Is Not Enough.

Sobre o frágil arcabouço científico do ecossistema científico nutricional e explicações, ainda assim, desnecessárias.

 Por vezes, ficamos girando, girando, girando, e girando na discussão entre o momento em que necessariamente deveria ser exigido um ECR e quando servem as coortes, os observacionais.

  
Aconteceu assim no recente episódio de Ciência Suja. Há todo tipo de justificativa lá o ecossistema nutricional e as acusações de alto grau de incerteza na sua ciência, pela carência de estudos controlados: comparam dificuldades para viabilização de ensaios clínicos e qualidade final comprometida em decorrência disso com coortes de longos anos - como se isto pesasse em favor das coortes, como se uma coisa fosse comparável com a outra ou auxiliasse no raciocínio primário. Passam pela influência da indústria nos resultados, razão pela qual optei por publicar este comentário aqui neste Blog: acaba soando mal, pois são discussões paralelas! Fiz questão de escrever aqui, para não surgir ninguém dizendo que não percebo a importância da influência da indústria. Assim como não gosto quando defensores dos tratamentos precoces ineficazes da COVID-19 enveredam para a justificativa que envolve a "Big Pharma".


Seria mais fácil e contundente simplesmente explicarem que são exatamente as coortes os modelos para identificação de fatores de risco. E que, uma vez estabelecido o fator de risco com bom grau de confiabilidade, um norte conceitual passa a estabelecido! E isto serve/basta para recomendações gerais. PONTO FINAL

Em um momento adiante, no desenrolar dessa questão, se acontecer de alguém propor uma solução qualquer que tenha pé fora do trilho linear entre o fator de risco e o desfecho, ou especialmente que seja muito “empacotada”, deixando opções provavelmente similares de fora, apostando demasiadamente em alimentos/nutrientes específicos ou querendo engessar demais indivíduos de baixo risco basal (onde a redução absoluta de risco será previsivelmente baixa) precisa sim dos ensaios clínicos randomizados. Idealmente. Ou há que se aceitar um grau inferior de confiabilidade da informação, que não é sinônimo de inação (permite todas as recomendações oferecidas no podcast) e, também, não combina com "empacotamentos" que acabam por se confundir com seitas, a exemplo que alguns LowCarbs ou naturebas.

Quando, no final do episódio sobre alimentos ultraprocessados, falam da radicalização desnecessária, brilham na retórica que não demandaria nada além de evidências observacionais para suportá-la. Dourar a pílula de observacionais, quando seriam ECR os estudos necessários, não ajuda e sequer seria necessário dentro da mensagem principal pretendida.
Há um desafio muito interessante nesse complexo cenário: como discriminar, sem lastros de censuras, verdadeiros mercadores da dúvida de quem tenta escrutinar "empacotadores" desta discussão, como nutricionistas que sugerem conhecer abordagem que somente funciona com a receita e o ritual deles, ignorando gostos, preferências e eventual opção de assumir riscos de forma a ser ainda considerada racional?

Quanto ao frágil arcabouço científico do ecossistema científico nutricional, parece-me questão em vias de superação. Apenas o meio médico largou na frente, muito por facilitadores financeiros para produção de ECR's. Mas é evidente e de causar orgulho o avanço da última década da pesquisa quantitativa em áreas como nutrição, fisioterapia e educação física.     

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