Essas situações sempre me suscitam reflexões sobre o quão suficiente são declarações de conflitos de interesse e o quanto devemos gerenciá-los melhor. Os interesses da indústria aqui ilustrados são legítimos. Devem, porém, ser defendidos de dentro?
Ambicionamos aqui estimular ainda mais o debate acerca da relação entre a Medicina e as indústrias de medicamentos e tecnologias, e da forma como tem colocado em risco a credibilidade da Medicina Baseada em Evidências. Que consigamos viabilizar um espaço de diálogo altamente saudável, científico e construtivo.
segunda-feira, agosto 26, 2024
sábado, agosto 24, 2024
Campanhas de vacinação em parceria com a indústria farmacêutica promovem com mais alcance vacinas ou a imagem das próprias empresas?
É impossível não se questionar sobre objetivos dessas campanhas a favor de vacinas fortemente atreladas à indústria farmacêutica: ajudam a imagem das vacinas tanto quanto das próprias empresas?
Primeiro porque seriam facilmente elaboráveis sem a participação dessas indústrias;
Segundo porque a imagem das farmacêuticas não tem porque ajudar a das vacinas:
Já no início dos anos 2000, as empresas farmacêuticas ficaram em 11º lugar entre 15 indústrias quando cidadãos norte-americanos foram questionados sobre "fazer um bom trabalho ao servir os seus consumidores”. Tiveram pior classificação apenas empresas como as de tabaco e companhias petrolíferas. A survey, que envolveu quase mil adultos norte-americanos, mostrou que a proporção de entrevistados com uma atitude positiva em relação à indústria farmacêutica caiu de 79% em 1997 para 44% em 2004 – uma queda maior do que a de qualquer outra indústria. Em 2018, uma de outro instituto não trouxe dados mais animadores para esse pessoal. Já na pandemia, ficou claro que promessas de segurança das grandes farmacêuticas em relação às vacinas não são suficientes para gerar confiança pública.
Recente publicação da Deloitte ajuda a esquentar a discussão. Se médicos e as suas associações profissionais são das fontes mais confiáveis de informações relacionadas com saúde, por que precisariam meter a indústria dos números aí de cima em mensagens que desejam cheguem e cheguem bem ao grande público?
Isso levanta a suspeita de que pode haver um interesse oculto em associar as farmacêuticas a nomes confiáveis, talvez para se aproximar de uma parcela da sociedade que já aderia às vacinas desde o início da pandemia e, especialmente, a partir dos ensaios clínicos. A parcela mais científica da sociedade...
Algumas avaliações sugerem ganho de imagem da Big Pharma ao longo da pandemia. Se surgiu a partir do atrelamento de sua imagem a coisas mais bem avaliadas pela sociedade, como associações médicas e, a despeito de toda crescente hesitação, as próprias vacinas, pode ser que muitas inserções na mídia trazendo o binômio médico-vacinas possam estar servindo primordialmente para melhorar a imagem da indústria farmacêutica, não? Quanto estariam ganhando grupamentos médicos nessas grandes campanhas integradas?
Leitura complementar:
"Construir a confiança do público nas imunizações exige mais do que um compromisso por parte dos fabricantes de vacinas. Exige, entre outras coisas, garantir que as empresas tenham todos os incentivos para libertar apenas vacinas que sejam seguras e dar aos cidadãos a garantia de que, se tiverem uma reacção adversa, serão cuidados".
Assinar:
Postagens (Atom)