Nos últimos tempos, a Associação Brasileira de Planos de Saúde vem publicando cada vez mais conteúdos em parceria com indústrias farmacêuticas e fabricantes de dispositivos médicos.
Pode não ter impacto negativo direto e até trazer vantagens amplas. Mesmo assim, poderia servir de justificativa para que os médicos, historicamente tão atacados pelas fontes pagadores em decorrência do “peso de suas canetas”, defendam suas próprias decisões terapêuticas e o uso de determinados produtos específicos, alegando que o vínculo ou patrocínio por parte da indústria não influencia suas escolhas e que eles têm, inclusive, tudo para melhor trazer o paciente para o centro das decisões em saúde. E, em média, não duvidamos disso.
Ou é algo mais complexo e potencialmente preocupante, como já observado em outros países: a partir da atuação dos Pharmacy Benefit Managers (PBMs), que são espécies de pontes entres as fontes pagadoras e as empresas, ou qualquer arranjo similar, negocia-se descontos especiais que nem sempre se traduzem em economia também para o paciente. Não necessariamente está em jogo o menor custo global, mas o maior desconto. Isso pode criar um paradoxo onde o paciente, mesmo diante de acordos à primeira vista muito interessantes, acaba, especialmente em regimes de coparticipação, pagando mais por tratamentos que poderiam ter alternativas, para eles, mais adequadas.
Esse tipo de estrutura pode resultar em modelo remuneratórios através de Pacotes que beneficiam economicamente as fontes pagadoras e os hospitais (quando não são os mesmos), mas nem sempre os doentes e seus familiares.
O cenário, no Brasil, exige mais análises críticas sobre os impactos dessas parcerias. Se este fenômeno seguir o modelo de outros países, vale investigar se estamos realmente garantindo acesso a medicamentos e dispositivos da forma mais justa e transparente para os pacientes.
O impacto negativo dessas negociações feitas lá fora por PBMs pode variar dependendo do tipo de cobertura:
Em Coberturas Integrais:
- Se o paciente possui cobertura integral para um tratamento específico, ele não arca diretamente com os custos dos medicamentos ou dispositivos.
- No entanto, o impacto negativo ocorre se o plano de saúde optar — ou o Pacote favorecer — tratamentos ou produtos de qualidade inferior ou qualquer tipo de restrição a caminhos terapêuticos que poderiam ser adequadamente ajustados a valores e preferências do paciente.
- Aqui, o impacto é mais direto: o paciente paga parte do custo e pode acabar arcando com valores mais altos, sem que os descontos negociados beneficiem o consumidor final.
Pergunta Final
Será que alguma instituição, acadêmica ou de mercado, está analisando a fundo esse fenômeno e seus impactos no Brasil?
Leituras complementares: