Em uma postagem recente, discutimos o contraste entre o controle rigoroso imposto aos "médicos comuns" e a liberdade irrestrita concedida às "instituições médicas". Durante uma atividade recente em que um dos editores deste site representou a Choosing Wisely Brasil, um participante perguntou sobre como selecionar e manter médicos que valorizem custo-consciência. A resposta destacou a complexidade do cenário, mas apontou algumas possibilidades:
"Que tal começarmos a prestar mais atenção aos conflitos de interesse e às mentalidades do tipo 'mais é sempre melhor'? Uma simples olhada nas redes sociais de muitos médicos já revela parte disso. Atentar-se para o que está acontecendo no sistema também".
E onde isso se conecta?
Alguns congressos médicos, organizados por entidades científicas sem adequada transparência, vêm cobrando valores de inscrição exorbitantes. Para um evento específico que se aproxima, vários colegas nos informaram que só participarão se forem patrocinados por laboratório ou pela indústria de dispositivos médicos. Além de terem as inscrições pagas, parcela também receberá hospedagem em hotél de luxo em Jurerê Internacional. Em um cenário assim, é difícil acreditar que todos serão assíduos nas palestras, quando há uma estrutura tão atrativa à beira-mar.
Dessa forma, o ciclo se completa: a indústria exerce influência potencial tanto dentro quanto fora do evento (literalmente na praia), beneficiando, de uma forma ou outra, a respectiva entidade científica ao pagar por inscrições tão caras, mesmo para aqueles que possivelmente não aproveitarão bem o conteúdo. Isso reforça a importância de regular essas instituições. Faz mais sentido investir esforços em garantir que a "estrutura oficial" funcione de forma transparente e ética, assegurando uma educação médica de qualidade para quem realmente se dispuser a aproveitar o congresso, do que focar apenas em controlar médicos que, hospedados em locais paradisíacos, acabam dispersos. E quem sabe assim não se consegue inclusive inscrição mais em conta para aquele que não aceita essas benesses? Bem como melhor moldar o sistema para aqueles que valorizam custo-consciência?
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