terça-feira, maio 29, 2012

Auto-conhecimento

Um exercício muito bacana para compreensão do significado e do impacto de conflitos de interesse é refletir sobre como reagimos a situações do dia-a-dia e tentar perceber os efeitos de influências externas em nossas próprias tomadas cotidianas de decisões.

Recentemente fui convidado para palestrar e moderar atividade sobre Times de Resposta Rápida em hospital que pretende implantar um. Se entendo que podem ser importantes quando muito bem aplicados e contextualizados, também é verdade que considero existir uma série de outras intervenções mais custo-efetivas para serem aproveitadas por organizações interessadas em segurança do paciente. Mais do que isto: percebo que não raramente instituições usam dos TRR’s de tal forma que acredito poderem aumentar erros na assistência à saúde, por incremento da fragmentação do cuidado, entre outras razões.

Pois bem...

Aceitei participar. E nitidamente modulei meu pensamento. As razões para isto foram muitas, e nem sempre as enxerguei. Na largada, justifiquei para mim mesmo a participação por ser uma atividade, vista numa perspectiva mais ampla, de segurança do paciente, tema sobre o qual tenho realmente me debruçado nos últimos tempos. Avaliando o modelo proposto, nos moldes de algumas oficinas de quality improvement que vivenciei no exterior, pensei: "é muito mais uma atividade por brainstorming para gerar um quality improvement project do que qualquer outra coisa. Fantástico!". Paralelamente, era evidente em mim a satisfação por estar prestes a fazer algo que gosto muito - estar neste tipo de situação, dar aulas, debater temas que considero apaixonantes ou controversos. O quê terá pesado mais???

Chegando lá, percebi que, provavelmente para não frustrar a expectativa de quem organizou o workshop, modulei meu discurso, incentivei TRR's sem trazer a tona todas as críticas que entendo sejam necessárias nesta discussão. Um julho, darei palestra no Safety2012 sobre o mesmo tema, onde "livre" para abordá-lo (escolhemos, em comum acordo, não somente o tema, mas o enfoque), farei diferente. Embora não tenha havido, em nenhum momento, nenhuma interferência direta do organizador desta outra atividade sobre como eu deveria pautar o assunto, sinto, sem nenhum problema em reconhecer, que me deixei pautar. Reforcei com a experiência vivida que sentimentos que envolvem desejos, conscientes ou não, de reciprocidade são sim capazes de modificar o resultado final de nossas "apresentações" cotidianas. Na maioria das vezes sem grandes consequências ou sem estarmos fazendo nada errado. Mas acontece. E eventualmente...

Aproveito para recomendar leitura: Why We Lie - WSJ

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