sábado, outubro 26, 2013

Participe de nosso grupo de discussão no Face


Lembramos que valem as mesmas regras estabelecidas para o Blog. Há um foco bem estabelecido para a discussão, e partimos da premissa de que é suficiente.

Os editores exortam os interessados a se absterem de misturar pautas políticas ou ideológicas com os temas em discussão. Tem sido freqüente a instrumentalização desse debate por ativismos de todo tipo (anti-capitalismo, anti-Medicina, anti-medicações, anti-psiquiatria, e suas contrapartes), produzindo um cenário confuso, que inviabiliza a construção de um espaço de “ética possível”, como se houvesse uma condição ideal a priori da qual não se pode abrir mão. Nosso pressuposto é de que a ética das relações humanas é uma construção histórica e social, portanto é possível sua existência em qualquer tempo, lugar ou sistema econômico. Leia mais sobre nossos princípios editoriais ao lado.

quarta-feira, outubro 23, 2013

Saraiva Felipe afirma ser despachante de laboratório farmacêutico

Ex-ministro da Saúde, a quem pude conhecer pessoalmente em 2005 (foto abaixo), está envolvido em denúncia grave que nasce de conflitos de interesse com laboratórios.


Por Gabriel Mascarenhas – Veja

O deputado federal Saraiva Felipe (PMDB-MG) foi ministro da Saúde de Lula entre 2005 e 2006. Nenhuma realização significativa marcou sua passagem pelo cargo. Para Saraiva, no entanto, não foi um tempo perdido. Incorporou contatos valiosos que fez na burocracia – e os tornou rentáveis, segundo ele mesmo diz. Presidente do PMDB mineiro, Saraiva transformou seu quinto mandato num dos mais chocantes balcões de negócios de que se tem notícia. Seu foco de atuação é a indústria farmacêutica.

“VEJA” teve acesso a uma gravação em que Saraiva, com toda a sem-cerimônia possível, abre o jogo a um interlocutor que o procurou, supostamente, para que ele ajudasse um laboratório que queria fornecer medicamentos para o Programa Farmácia Popular: “Tem dois tipos (de trabalho): ‘Você me ajuda e, se der certo, eu te dou não sei o quê; e a outra forma é como eu trabalho para a Interfarma e a Hypermarcas: ‘Nós damos uma ajuda mensal e você, diante das demandas, encaminha aqui e ali”. Numa palavra, Saraiva assume sem meias palavras que topa um mensalão.

A gravação, feita em Belo Horizonte, é de fevereiro deste ano. Nela, Saraiva promete ao interlocutor, que se apresentou como emissário de um grande laboratório, abrir as portas do Ministério da Saúde e da Anvisa. Em relação à agência reguladora, jacta-se quando fala do diretor-presidente: “O Dirceu Barbano me ajuda muito. Tenho bom acesso a ele”. Cita como clientes dois grandes laboratórios (Hypermarcas e Cristália) e uma entidade de classe, a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma). Ao propagandear seus serviços, porém, deixa claro que sua carteira de clientes é ampla: “Não sou de empresa nenhuma. Sou despachante”.

Os 34 minutos de gravação mostram um caso impressionante de desfaçatez. Em bom português, ele pede propina em troca de favores que garante conseguir. Procurado, Saraiva reconhece ser sua voz na gravação. Ainda assim, nega que tenha dito o que está gravado: “Isso não existe. Não recebo nada”. 

O que é incontestável no áudio é que o deputado se autoincrimina. Há que ter cuidado, porém, em relação aos citados por ele, sejam empresas, sejam autoridades do governo – só uma investigação poderá confirmar o que foi dito. Saraiva pode estar vendendo gato por lebre e usando o nome dos outros para fechar negócios. A Hypermarcas nega “veementemente quaisquer alegações que objetivem atingir a reputação da companhia”. Da mesma forma, Antônio Britto, presidente-executivo da Interfarma, afirma não ter feito “em qualquer tempo, a quem quer que seja, ou por qualquer motivo, pagamento algum para defesa de suas posições junto às autoridades”. A Anvisa diz que “atende com atenção e seriedade os pleitos encaminhados pelo Legislativo” e completa: “o mesmo se aplica em relação ao deputado Saraiva Felipe”. O laboratório Cristália não se pronunciou.

É legítimo que um parlamentar trabalhe em favor de um setor – a Interfarma e o Cristália, aliás, são doadores de fundos para a eleição de Saraiva, com 150 000 reais e 80 000 reais, respectivamente. Mais do que isso: é desejável que segmentos da sociedade, sejam eles sindicatos de trabalhadores, minorias ou setores produtivos, tenham porta-vozes no Congresso defendendo seus interesses. Assim funcionam as democracias. O que é inadmissível é um deputado mercadejar seu mandato de forma tão despudorada.

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É desalentador ver que a diretora da ANVISA da época está agora na Interfarma, bem como o fato que os anos de Saraiva Felipe no MS foram tempos de dedo na cara dos médicos, acusados de desumanos e de apenas atuarem por dinheiro, servindo primariamente aos interesses de grandes corporações. 

terça-feira, outubro 15, 2013

Luis Cláudio Correa, editor do Blog, palestrará no I Congresso Internacional sobre Segurança do Paciente

Luis Cláudio palestrou recentemente no congresso Safety e o presidente do ISMP Brasil estava na platéia no momento de sua apresentação. Pelo jeito, gostou...

Fomos convidados para discutir excessos diagnósticos/terapêuticos e o impacto na segurança do paciente em mais este importante evento:



Medicina Defensiva

Artigo aborda outros elementos da complexa equação que culmina no uso irracional de medicamentos e tecnologias, principalmente a judicialização da Medicina, mas também a formação profissional precária, a falta de condições de trabalho e o desgaste da relação médico-paciente.

segunda-feira, outubro 14, 2013

Como o entendimento de organizações em geral poderia ajudar na melhoria das médicas

Segundo o material em anexo, "as organizações precisam buscar meios para analisar não apenas a capacidade técnica e intelectual dos seus profissionais, mas também a capacidade de discernimento e a capacidade de resistência a pressões situacionais quando diante de dilemas éticos que podem sofrer ao longo de suas atividades". Escancara que, apesar de ética ser, na visão simplória do problema, um único caminho a trilhar e o contrário do anti-ético, no mundo real, isto é questão muito mais complexa e movediça. Pesquisa escancara contradições naturais do comportamento humano e, no documento, algumas formas de gerenciar o problema são sugeridas.

Leia o material na íntegra

Não tenho vergonha de responder que já me comportei ou correria risco de cair no "vermelho" em alguns elementos da pesquisa...

quinta-feira, outubro 10, 2013

A banalização das doenças

* Artigo publicado no Jornal A Tarde por Luis Correia, direcionado, então, não somente para profissionais da saúde

Em meados do século XX, a evolução tecnológica e científica nos trouxe tratamentos de grande relevância. Antes disso, a maioria das condutas eram empíricas e inefetivas. Fazíamos uma medicina que tentava apenas reduzir o sofrimento ou proporcionar a falsa idéia de que algo benéfico estava sendo utilizado. No início do século passado, não havia antibióticos, anti-hipertensivos, medicamentos para baixar colesterol ou marca-passos.

Esta fase foi seguida de uma grande evolução nos últimos 50 anos, tirando a medicina de um estágio medieval para uma prática efetiva e embasada em evidências. Neste contexto, o primeiro ensaio clínico publicado (British Medical Journal) data de 1948, quando se comprovou pela primeira vez que um antibiótico (estreptomicina) reduzia significativamente a mortalidade de pacientes com tuberculose, quando comparado ao tratamento limitado ao repouso. Começava a era da medicina baseada em evidências.

Por outro lado, no início do século XXI, passamos a experimentar outro fenômeno: a medicalização da população. O principal mecanismo criador da medicalização são as novas definições de doença, caracterizadas pela redução dos limites de referência do que antes considerávamos normal. É comum que a redução destes limites ocorra sem o devido embasamento científico, sendo mais motivados pelo afã de prevenir doenças, ou por conflitos de interesses. Isto faz com que, do dia para a noite, surjam populações inteiras de novos doentes, antes considerados normais.

Há alguns anos, diabetes era definido como glicemia de 140 mg/dl, depois esta definição foi reduzida para 125 mg/dl e agora já se considera que glicemia de 100 mg/dl não é normal, criando-se o conceito de pré-diabetes. Embora o conceito de pré-diabetes tenha certo valor, este tem sido inadequadamente utilizado para justificar uso de medicações, sem base científica suficiente. Temos também o advento da pré-hipertensão, rótulo que já cabe a pessoas com pressão arterial de 120 x 80 mmHg. Está cada vez mais difícil ser normal.

A primeira vista, isto pode ser interpretado como uma conduta cuidadosa, típica do paradigma preventivo de que é melhor se preocupar antes que o problema se torne uma questão mais grave. No entanto, esta conduta representa mais uma forma de overdiagnosis. Em paralelo ao afrouxamento da definição das doenças, a indústria farmacêutica realiza estudos de má qualidade, que tentam demonstrar benefício do uso de medicamentos nestas condições. Estes que mostram resultados insuficientes, que são “vendidos” de forma sedutora, levando à adoção de terapias desnecessárias. Assim surge o overtreatment.

Recentemente, o Jornal Nacional noticiou que os médicos agora consideram que o valor ideal de colesterol LDL (colesterol ruim) é 70 mg/dl. Porém, a média de LDL-colesterol na população é 120 mg/dl, sendo muito difícil que uma pessoa saudável tenha colesterol LDL de 70 mg/dl. Desta forma, um grande número de pessoas, antes definidas como portadores de colesterol adequado, agora estão insatisfeitas com seu colesterol. Como dieta reduz apenas 5-10% e exercício não tem impacto algum, restará apenas medicação para que as pessoas tenham um ótimo colesterol. De posse dessas novas definições, se inicia o marketing simulteamente voltado para médicos e pacientes. Um marketing efetivo, pois quem não quer ter colesterol ótimo?

Tudo isso ocorre em detrimento de uma escolha conscienciosa e científica, tal como proposto pela medicina baseada em evidências. Está mais para medicina baseada em fantasia, uma lucrativa fantasia.

Por outro lado, precisamos lembrar que verdadeiros fatores de risco, como colesterol elevado, diabetes e hipertensão, não devem ser negligenciados, necessitando de tratamento na maioria das vezes com medicação. Nestes casos, existe comprovação científica de benefício.

Diagnóstico e tratamento são as ações primordiais da prática médica e devem ser feitos para quem precisa, na hora que se precisa e com criterioso embasamento científico.

sexta-feira, outubro 04, 2013

Integridade científica em cheque: Estudo falso é aceito para publicação em mais de 150 revistas

por Herton Escobar

Imagine só o seguinte experimento: Você escreve um trabalho científico falso, baseado em dados falsos, obtidos de experimentos sem validade científica, assinado com nomes falsos de pesquisadores que não existem, associados a universidades que também não existem, e envia esse trabalho para centenas de revistas científicas do tipo “open access” (que disponibilizam seu conteúdo gratuitamente na internet) para publicação. O que você acha que aconteceria?

Pois bem, um biólogo-jornalista norte-americano chamado John Bohannon fez exatamente isso e os resultados, publicados hoje pela revista Science, são aterradores (para aqueles que se preocupam com a credibilidade da ciência): ele escreveu um trabalho falso sobre as propriedades anticancerígenas de uma molécula supostamente extraída de um líquen e enviou esse trabalho para 304 revistas científicas de acesso aberto ao redor do mundo. Não só o trabalho era totalmente fabricado e obviamente incorreto, mas o nome do autor principal (Ocorrafoo Cobange) e da sua instituição (Wassee Institute of Medicine) eram fictícios. Apesar disso (pasmem!), mais da metade das revistas procuradas (157) aceitou o trabalho para publicação. Um escândalo.

O que isso quer dizer? Quer dizer que tem muita revista “científica” por aí que não é “científica” coisíssima nenhuma. E que o fato de um estudo ter sido publicado não significa que ele esteja correto (pior, não significa nem mesmo que ele seja verdadeiro para começo de conversa). A ciência, assim como qualquer outra atividade humana, infelizmente não está isenta de falcatruas.

E o que isso não quer dizer? Não quer dizer que o sistema de open access seja intrinsecamente falho ou inválido. Certamente há revistas de acesso livre de ótima qualidade, como as do grupo PLoS, assim como há revistas pagas de baixa qualidade que publicam qualquer porcaria. Nenhum sistema é perfeito. Até mesmo a Science publica umas lorotas de vez em quando, assim como a Nature e outras revistas de alto impacto, que empregam os critérios mais rígidos de seleção e revisão. Além disso, o fato de uma revista ser gratuita não significa que ela não tenha revisão por pares (peer review) e outros filtros de qualidade. Assim, o que deve ser questionado não é a forma de disponibilizar a informação, mas a forma como ela é selecionada e apurada — em outras palavras, a qualidade e a confiabilidade da informação, não o seu preço.

O relato de Bohannon acaba de ser publicado no site da Science, dentro de um pacote de artigos intitulado Comunicação na Ciência: Pressões e Predadores.

Nessa mesma temática, a revista Nature publicou recentemente também uma reportagem sobre o escândalo envolvendo quatro revistas científicas brasileiras que foram flagradas praticando citações cruzadas — ou “empilhamento de citações”, em inglês –, esquema pelo qual uma revista cita a outra propositadamente diversas vezes, como forma de aumentar seu fator de impacto (e, consequentemente, o prestígio dos pesquisadores que nelas publicam). As revistas são Clinics, Revista da Associação Médica Brasileira, Jornal Brasileiro de Pneumologia e Acta Ortopédica Brasileira.

O esquema foi descoberto pela empresa Thomson Reuters, maior referência internacional na produção de estatísticas de publicação e citações científicas. Como punição, as quatro revistas tiveram seu fator de impacto suspenso por um ano.

Fonte: http://blogs.estadao.com.br/herton-escobar/estudo-falso-e-aceito-para-publicacao-em-mais-de-150-revistas/
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