terça-feira, maio 20, 2014

Alguém questiona que os conflitos de interesse não financeiros podem ser tão ou mais poderosos?

Lembrei disto lendo O advogado do diabo, em Zero Hora de hoje, texto do médico Gilberto Schwartsmann. Resposta ao jornalista Paulo Santana, que mudou seu discurso para direção diametralmente oposta após aparente "intensivo de elogios e afagos".

Segundo o psiquiatra Flávio Gikovate, a vaidade pode ser de tal ordem danosa, que nos leva a um distanciamento dos fatos da vida real, sobretudo aqueles que não combinam com nossas expectativas. A vaidade faz-nos lutar contra a realidade, substituindo-a por versões mais desejáveis, até chegarmos à crença de que nossas ideias são a própria realidade. Tira-nos o bom senso. Torna-nos pessoas arrogantes e inconvenientes, com uma necessidade de vencer sempre. O que importa ao vaidoso é como ele próprio acha que o mundo e as pessoas deveriam ser. Seduzido por falsos elogios, o vaidoso esquece com rapidez espantosa suas mais sólidas convicções. Em Reflexões ou Sentenças e Máximas Morais, Rochefoucauld diz que “a bajulação é uma moeda falsa que só circula por causa da vaidade humana”. Nietzsche, na obra Para Além do Bem e do Mal, fala que “a nossa vaidade gostaria que o que fazemos melhor fosse considerado como aquilo que mais nos custa. Para, assim, explicar a origem de certas morais”. Achei suspeito o convite da presidente a um grupo seleto de jornalistas, dos mais renomados do país, para ir visitá-la no Palácio, com pompa e circunstância, às vésperas dos jogos da Copa do Mundo. Por que fazê-lo, agora, quando há riscos de que sua popularidade despenque e que o povo brasileiro expresse sua indignação aos olhos do mundo? Lembrei a última cena do filme O Advogado do Diabo, em que o jovem e ambicioso advogado Kevin Lomax, personagem de Keanu Reeves, cai, novamente, na armadilha do capeta, interpretado por Al Pacino. Os políticos são profundos conhecedores da alma humana. Para obter o que interessa, como o gaúcho em seu cavalo, eles sabem qual o “lado de montar” de nós, mortais. E que há sempre aliados de última hora, movidos pela força quase irresistível da vaidade.

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