Isabelle Boutron aborda a questão no vídeo abaixo sob a perspectiva maior das publicações biomédicas:
Mas recente artigo na Folha de São Paulo instiga o mesmo debate na âmbito do jornalismo em saúde.
A Folha vende o estudo como positivo, mas, a partir do desfecho primário, foi absolutamente negativo.
O desfecho primário foi incidência de delirium e o secundário incluiu infecções adquiridas na UTI, burnout na equipe e sintomas de ansiedade/depressão nas famílias. Não dá para falar, portanto, em quaisquer outros riscos.
A Folha foca exclusivamente no desfecho secundário, em tese positivo, mais ainda assim questionável. Falam em melhora de depressão e ansiedade, mas houve melhora em escore de triagem para depressão e ansiedade no hospital, melhora essa que é resultado da comparação de grupos cujos escores médios largam abaixo do ponte de corte sugerido para ambas as subeacalas. De forma que, do ponto de vista acadêmico, não dá para falar em melhora de depressão ou ansiedade que até aqui, com as informações disponíveis, sequer existem então. E muito menos dá para fazer comparação com antidepressivos, que só possuem algum espaço nos casos de diagnóstico confirmado de depressão, e não chegamos lá com a referida pesquisa.
Não bastasse isso, a mudança estatisticamente significativa no escore entre os grupos é de relevância clínica pequena. Significa, por exemplo, responder uma ou outra em:
Eu ainda sinto gosto pelas mesmas coisas de antes:
( ) Não tanto quanto antes( ) Só um pouco
A ciência terá virado apenas ferramenta de retórica????
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