sexta-feira, dezembro 22, 2023

Médicos brasileiros pouco compreendem a importância de não apenas fazer a coisa certa, mas de não dar margens a questionamentos sobre isso. Surpreende?

Uma empresa admitiu que se envolveu em coisas muito feias e recebeu uma multa de bilhões. Uma advogada assumiu o caso e conseguiu anular boa parte dela no STF! O Ministro que anulou a multa é, também, marido da advogada. A advogada muito provavelmente teve remuneração baseada no valor resgatado. 



CULTURA impacta enormemente na forma como uma sociedade lida, localmente, com conflitos de interesse. O Brasil tem sedimentado uma cultura que faz com que certos comportamentos médicos sejam legitimados como aceitáveis, normais. 

sexta-feira, dezembro 08, 2023

Muitas vezes, percebe-se pacientes oftalmológicos com pressão ocular elevada, apesar do tratamento. Ao conversar com esses pacientes, surgem uma série de explicações sobre por que as pessoas têm dificuldades em aderir aos medicamentos tópicos. Alguns têm alergias ou desenvolvem reações adversas aos colírios, outros simplesmente esquecem. Para outros, o custo dos colírios é um fator relevante. Então, por que muitas vezes os pacientes recebem prescrição de opções mais caras, quando genéricos de preços mais baixos e mais acessíveis são frequentemente igualmente eficazes?



Leitura complementar: First, Do No (Financial) Harm

segunda-feira, dezembro 04, 2023

Congressos médicos contemporâneos

Observei, na semana passada, um congresso médico de especialidade que não é a minha, ao acompanhar familiar participante. Não fui ao evento propriamente dito, mas o vivenciei de posicionamento e perspectivas interessantes. Ocorreu em uma das cidades litorâneas brasileiras que mais gosto.

Fazia muito tempo que eu não tinha vontade de discutir a relação entre médicos e farmacêuticas. E não surgiu essa vontade lá, como em momento em que fui convidado para um "Luau da Indústria", limitando-se apenas a dizer que não estava disposto a sair naquele noite. Não me sentiria à vontade e não tive vontade alguma de explicar as razões e suscitar os tradicionais debates que advêm deles, com expressões manjadas do tipo "isso não é problema para gente de bem como nós". Passado o evento, resolvi voltar aqui no Blog, onde lê quem quer, para descrever um pouco a experiência:

Já nas semanas que antecederam o evento, fiquei sabendo que vários médicos residentes estavam indo com passagens e/ou estadias cobertas por "parceiros dos laboratórios". Havia uma atmosfera de absoluta normalidade nisso.  

Justificativa frequente para essa ajuda de custo ressalta o "papel desempenhado pela indústria da saúde na qualificação e atualização do profissional médico, contribuindo muito para a disseminação de conhecimento atualizado, considerando ainda a velocidade com que as transformações e inovações ocorrem nesse campo". Interessante, no entanto, o caso de um médico que disputou comigo o título de quem mais aproveitou a piscina do hotel durante o período, estando eu ali justamente para isso; ele, em tese, inscrito no congresso. 

Interessante também essa ajuda de custo em contexto onde, para residentes do Brasil todo, o último dia de evento foi num barco com Open Bar. Não sei ao certo se o passeio foi pago pela indústria ou se cada um pagou o seu (até fiquei com a impressão de que pagaram individualmente), mas o fato é que houve patrocínio para muitos deles estarem lá. O pretexto público é sempre qualificação e atualização, mas perderam então 1/3 do evento, trocando um dia inteiro de atividades educativas por passeio de barco e outras coisas boas. Na prática, é diversão bancada parcialmente por laboratórios, com a bolsa de residência entrando integralmente, em período em que, não estivessem no congresso, a maioria estaria trabalhando ou, pelo menos, em regime de sobreaviso. 

Após o penúltimo dia do evento, na piscina, dois médicos experientes, na faixa dos 65 anos, conversavam alto acompanhados das esposas, que foram "minhas parceiras" frequentes de piscina durante o período:

- Você viu que houve cancelamento do vôo da Gol e mudaram para um da LATAM (ou ao contrário)?

- Vi, mas ficou tudo mais ou menos nos mesmos horários, na prática não muda quase nada.

- Problema é que, na reserva nova, vamos ter que pagar as malas.

- Ah, isso não tinha visto!

(silêncio) 

- Liga para a propagandista loirinha, aquele meio assanhada, e pede para ser com bagagens inclusas!

- Ela é uma gracinha, disse o outro com cara de malícia. Mas resolve pouco. Vou ligar direto para o [e falou um nome masculino].

As duas senhoras que acompanhavam presenciaram aquilo como que alheias. Algum tempo depois:

- Pronto, resolvido, temos as bagagens.  

Voltando ao Luau que não fui, e depois fiquei pensando que deveria ter ido para incrementar a discussão aqui, ainda mais que estava em cenário distante de minhas especialidades médicas...

Reuniu médicos de várias matizes, novos e experiências, influentes e aqueles que ainda buscam um lugar ao sol.... Lembrei imediatamente dessa descrição a seguir. Claro que, no texto original, mais direcionada para propósitos educacionais: “Conectar os melhores com os mais brilhantes” é o objetivo de todas as iniciativas. Mas, ao cabo, como eles mesmo escrevem, a "Pirâmide de Influência" pode ajudar. Além disso, a diversidade pode ainda ajudar a indústria a se aproximar de DOL's, havendo muito potencial entre a turma jovem. Não sabe o que é DOL, clica ali.


Leituras complementares:

quinta-feira, outubro 26, 2023

Pagamentos da indústria farmacêutica e entrega de medicamentos para câncer não recomendados e de baixo valor:

 

segunda-feira, junho 12, 2023

Em conflitos de interesse, o problema é sempre o(s) outro(s), cada um de nós uma solução até!

Esse fenômeno é realmente muito instigante: 

O cérebro ético na Medicina (o eu ético - o outro não)

E sua reprodutibilidade não menos impressionante:

Semanas atrás fui procurado por conhecido que se tornou parceiro direto ou indireto em várias iniciativas. Na origem, nos aproximamos justamente quando eu estava na Campanha Alerta do SIMERS e ocorreu por ele concordar que a relação entre os médicos e a indústria farmacêutica precisava mudar. Agora, procurou para uma iniciativa em parceria com a indústria farmacêutica.

O que mudou na sua maneira de enxergar a questão?

"Conosco será diferente! Digo mais: vamos para dentro da questão, literalmente: alguém precisa moralizar isso daí. É possível! Nós somos uma solução."

Vai ao encontro de toda base teórica já tão aprofundada na época da hoje desativada Campanha Alerta e resume-se em uma expressão: "ilusão de superioridade".  Ilusão de superioridade não é algo bom ou ruim em si mesma, depende do contexto. No terreno dos conflitos de interesse, costuma ser uma das armadilhas mais clássicas. 

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...