Nas ações judiciais que tramitam nos EUA sobre os danos causados pelas cirurgias robóticas dois fatos chamam a atenção: a precária formação dos cirurgiões e o agressivo marketing da indústria.
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O ostensivo marketing que envolve a comercialização dos robôs para os hospitais também tem se tornado público nos EUA. Trecho de um relatório publicado na revista "Capital Northland" sobre as cirurgias robóticas resume bem isso: "o marketing agressivo dirige a mensagem, e a verdadeira utilidade clínica parece de natureza secundária".
O relatório é baseado em entrevistas com ex-vendedores e documentos internos da indústria. Um tema comum é o esforço dos vendedores para estimular os cirurgiões a "converter" cirurgias previamente agendadas como não robóticas para cirurgias robóticas e, assim, cumprirem as cotas de vendas trimestrais.
Em um e-mail, um diretor de vendas lamentou a previsão de cirurgias de um hospital de Montana: "[A equipe] está prevendo cerca de 285 procedimentos por semana. Precisamos estar em 345 procedimentos por semana para fechar o nosso objetivo."
Outros e-mails mostram também que os representantes de vendas tentam convencer os hospitais a reduzir a quantidade de cirurgias supervisionadas necessárias antes de os cirurgiões poderem operar sozinhos.
Nos EUA, há também um ostensivo marketing dos robôs diretamente ao consumidor (no Brasil, isso não é permitido).
Hospitais exibem orgulhosamente banners e anunciam a chegada do robô da Vinci com propagandas do tipo "O nosso hospital já tem. E o seu?" Ou "da Vinci, mesmo nome, mesmo gênio."
Mas há instituições que pensam diferente. O Hospital Geral de Massachusetts é um exemplo. Apesar de já ter o robô há cinco anos, não faz propaganda dele e tem limitado os médicos a utilizá-lo. "Temos tido uma abordagem muito conservadora, cautelosa e cética para o uso dele", disse o anestesista Peter Dunn, que também supervisiona a nova tecnologia no hospital.
Dunn afirma que a instituição se orgulha de estar na vanguarda das novas tecnologias médicas, mas reforça que o robô ainda não provou ser a melhor solução para todos os pacientes.
Embora o hospital continue a considerar novas utilizações para o da Vinci, Dunn é categórico: "mais importante do que o dispositivo, é a qualidade do cirurgião."
por Cláudia Collucci, repórter especial da Folha e especializada na área da saúde
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