sábado, abril 27, 2013

Ensaio sobre a Medicina Baseada em Fantasia

A mente humana tem propriedades que parecem adequadas, mas que podem nos trair. Aqui me refiro ao fenômeno damente crente, termo que reflete nossa tendência de nos excitarmos mais por afirmações do que por negações. Temos um interessante tropismo pela crença, mesmo que a idéia tenda mais para a fantasia do que para realidade. Em contraste com essa nossa tendência, o pensamento científico moderno prega o ceticismo: a crença deve depender da prova, principalmente quando estamos tomando decisões racionais [LEIA O TEXTO NA ÍNTEGRA em Medicina Baseada em Evidências].

sábado, abril 20, 2013

Projeto do Hospital Albert Einstein busca evitar conflitos e padronizar procedimentos cirúrgicos

Em dois anos, dos 1.679 pacientes que chegaram com pedido médico para a operação, só 683 (41%) foram confirmados como realmente necessários. Os resultados foram apresentados anteontem em fórum internacional de qualidade e segurança do paciente, em Londres [LEIA NA ÍNTEGRA AQUI].

Cláudia Collucci já havia trabalhado em tema em matéria no ano passado (Leia Peso da indústria pode estimular mais cirurgias de coluna), época em que contribui sugerindo que "sabemos dos exageros, mas fazemos de conta que não sabemos". O Hospital Albert Einstein de alguma forma expõe a si próprio, demonstrando muita maturidade. Sem fazer de conta que não sabe, é alguém tentando, e isto é louvável em um cenário onde impera grande e confortável cortina de fumaça. Críticas até justificadas surgirão, mas que sirvam para aprimorar o trabalho, e não para cerceá-lo.

sexta-feira, abril 19, 2013

Ampliando Espaços de Medicalização

Recebemos artigo de José Augusto Cabral de Barros, ex-professor dos Departamentos de Medicina Social da UFPE e de Saúde Coletiva da UFJF, Doutor em Epidemiologia pela Universidade Autônoma de Barcelona e divulgamos:

Os gastos para convencer a todos dos aspectos positivos do uso dos medicamentos – escamoteando, obviamente, seus riscos e potencial de provocar danos – ultrapassam, de longe, o que a indústria farmacêutica destina à pesquisa e desenvolvimento de novos fármacos. Há intentos de fazer crer que todo é, em alguma medida, enfermos, buscando-se, aliás, uma pílula para todo e qualquer problema, incluindo os imaginários ou fictícios [LEIA NA ÍNTEGRA CLICANDO AQUI].

sábado, abril 13, 2013

A Armadilha do Tratamento

Divulgo entrevista de jornalista americana, autora do livro, The Treatment Trap (A Armadilha do Tratamento):


Segundo a autora, "médicos éticos não permitem o tratamento excessivo. As declarações de princípios da categoria dizem que um médico nunca deveria colocar os pacientes em uma situação em que os riscos excedem os possíveis benefícios". É impressionante como as pessoas desconhecem o real significado de conflitos de interesse (leia mais sobre isto aqui, aqui, aqui e aqui) e como diz respeito a todos nós, e não somente "aos anti-éticos que nos cercam".

A autora escancara ainda que desconhece aspectos relevantes do tema quando diz que nunca foi vítima de overuse e não aceita que poderia vir a ser. Eu que sou médico já fui, já não pude evitar familiares de ser, e até mesmo pratiquei. Quem não reconhece as armadilhas da discussão, a faz de forma superficial e perigosa.

Rosemary Gibson, em resumo, dá muito valor aos casos em que hospitais e profissionais de saúde aplicam deliberadamente procedimentos médicos que podem levar os pacientes à morte com o objetivo de conseguir dinheiro. Segundo seu texto, "a Associação de Medicina dos Estados Unidos classificou atos como esse de “tratamento excessivo”, do inglês overuse – procedimento médico que traz mais riscos à saúde dos pacientes do que benefícios". Acredito que qualquer um, inclusive a Associação de Medicina dos Estados Unidos, classificaria isto como corrupção ativa e formação de quadrilha. Overuse diz respeito a coisas bem mais amplas e complexas, incluem estes atos francamente desonestos, mas também, e principalmente, os conflitos da vida cotidiana, que a autora parece valorizar menos. O que me parece um grande equívoco.

Eu não traduziria o livro neste momento. Há outras obras semelhantes. Entendo que este tipo de abordagem pode aumentar a cortina de fumaça sobre nosso tema.

quarta-feira, abril 10, 2013

Robôs, porcos e marketing



Nas ações judiciais que tramitam nos EUA sobre os danos causados pelas cirurgias robóticas dois fatos chamam a atenção: a precária formação dos cirurgiões e o agressivo marketing da indústria.

... (vide texto na íntegra clicando aqui)

O ostensivo marketing que envolve a comercialização dos robôs para os hospitais também tem se tornado público nos EUA. Trecho de um relatório publicado na revista "Capital Northland" sobre as cirurgias robóticas resume bem isso: "o marketing agressivo dirige a mensagem, e a verdadeira utilidade clínica parece de natureza secundária".

O relatório é baseado em entrevistas com ex-vendedores e documentos internos da indústria. Um tema comum é o esforço dos vendedores para estimular os cirurgiões a "converter" cirurgias previamente agendadas como não robóticas para cirurgias robóticas e, assim, cumprirem as cotas de vendas trimestrais.

Em um e-mail, um diretor de vendas lamentou a previsão de cirurgias de um hospital de Montana: "[A equipe] está prevendo cerca de 285 procedimentos por semana. Precisamos estar em 345 procedimentos por semana para fechar o nosso objetivo."

Outros e-mails mostram também que os representantes de vendas tentam convencer os hospitais a reduzir a quantidade de cirurgias supervisionadas necessárias antes de os cirurgiões poderem operar sozinhos.

Nos EUA, há também um ostensivo marketing dos robôs diretamente ao consumidor (no Brasil, isso não é permitido).

Hospitais exibem orgulhosamente banners e anunciam a chegada do robô da Vinci com propagandas do tipo "O nosso hospital já tem. E o seu?" Ou "da Vinci, mesmo nome, mesmo gênio."

Mas há instituições que pensam diferente. O Hospital Geral de Massachusetts é um exemplo. Apesar de já ter o robô há cinco anos, não faz propaganda dele e tem limitado os médicos a utilizá-lo. "Temos tido uma abordagem muito conservadora, cautelosa e cética para o uso dele", disse o anestesista Peter Dunn, que também supervisiona a nova tecnologia no hospital.

Dunn afirma que a instituição se orgulha de estar na vanguarda das novas tecnologias médicas, mas reforça que o robô ainda não provou ser a melhor solução para todos os pacientes.

Embora o hospital continue a considerar novas utilizações para o da Vinci, Dunn é categórico: "mais importante do que o dispositivo, é a qualidade do cirurgião."

por Cláudia Collucci, repórter especial da Folha e especializada na área da saúde
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